Resolvi
escrever esse artigo, por ter sido interpelada por um jovem estudante de uma área da Educação.
Na
minha resposta, não me apeguei
especificamente nas questões dos salários baixos e da jornada de
trabalho injusta; com aqueles que são os pioneiros na formação do cidadão desse
país.
“Pós
e contras” encontramos em todas as profissões e não somente na rede pública de
ensino; mas na rede privada também.
Conheci as duas nos meus longos anos como educadora e vou deixar a minha
opinião particular, baseada na realidade em que vivi no Município do Rio de
Janeiro especificamente.
Conheci
crianças muito carentes. Crianças cujos
pais foram crianças muito carentes de
tudo, também como eles. Não tiveram uma
boa educação, alimentação, princípios éticos e morais, conscientização de
cidadania etc.
Conheci crianças cujas famílias vinham direto do
interior do nordeste para uma “posse”
de “espaço” num terreno supostamente
abandonado. Ali, sua cerca de “barbante”
delimitava seu espaço e a casa de compensado e papelão, era apenas um cubículo
para dormir. Banheiro? Só na escola,
onde ouvi diversas vezes as mães pedindo para usá-lo confessando que não havia
outro lugar para ir.
Conheci
crianças que pareciam seres de outro planeta tal deslumbramento com as coisas
simples que a escola possuía: livros, lápis de cores tão lindas, cadernos com
linhas onde ela podia escrever “do seu jeitinho”, ainda sem conhecer os códigos
que convencionamos para a escrita. Também
vi crianças que não sabiam se expressar oralmente por não conhecer as palavra
no seu vocabulário quase nulo.
Conheci
crianças cujas famílias só tinham uma finalidade para o jornal diário: colocar
no chão para forrar seus cobertores e dormir e crianças que escondiam
carne, biscoito, fruta da merenda dentro da mochila, em meio às pontas de lápis
para levar para a mãe e o irmão mais novo.
Algumas
tinham muitos piolhos, e cheguei a ver uma cabecinha que parecia cheiinha de
farelo, mas eram lêndias. Não era raro encontrá-las
com sarna, impetigo, hanseníase e até
mesmo Aids.
Outras
viviam marcadas pelo espancamento e o pior de tudo, crianças ainda pequenas
abusadas pelos irmãos, padrasto... pai. Meninas cujas mães deixavam ir à
vendinha do “Seu fulano” a fim de trocar favores libidinosos por cigarro, café,
um pão ou um leite...cachaça.
Alguns
dos meus alunos não chegaram a idade adulta, mortos pelo tráfico. E lembro-me bem de seus rostos e de quanto
eram carinhosos comigo. Eram só crianças
precisando de cuidado, amor. Eu ganhava
flores dos jardins da localidade, cajá, acerola, banana, cartinhas de amor,
beijos suados, babados, melados de narizes escorrendo. Eram só crianças.
Queridos,
a melhor apostila que fosse criada
pelos maiores especialistas em
Educação não vão dar conta de aumentar as estatísticas do fracasso escolar.
As
escolas Municipais tem os melhores profissionais do ensino. Todos estudamos muito para passar num
concurso que não é nada fácil.
Noventa por cento de nós cursou
pelo menos uma faculdade. A maioria de
nós não escolheu a profissão pelo salário, (isso é obvio), mas por acreditar
que podemos contribuir para o crescimento
de uma cidadania consciente no
nosso país. Muitos não gostam nem
confessam, mas vocação é uma palavra relevante nesse assunto.
O
que fazer então? Como contribuir para que todos esse quadro possa ser mudado.
É
evidente que não me atrevo a ter todas as respostas mas com tantos
profissionais disponíveis que temos no
nosso país, poderíamos investir mais num atendimento multidisciplinar para
atender nossas crianças, nossos adolescentes, nossos jovens.
Com
toda essa realidade na qual convivi, fica evidente que as crianças de baixa
renda, (e que são as crianças das escolas públicas em sua maioria), precisariam
antes de ingressar na escola, de atendimento médico: Pediátrico e Psicopedagógico, que poderia ou não encaminhá-las ao
oftalmologista ou otorrinolaringologista
ou ao fonoaudiólogo ou até mesmo ao psicólogo.
Cada
escola (e não cada grupo de tantas escolas) deveria ter um núcleo com uma
equipe de: Psicopedagogo, Assistente Social, Psicólogo e Fonoaudiólogo, para
dar conta de tantos casos que necessitam
de atendimento.
Não
resolveria enviar ao “Posto de Saúde”,
pois a demanda é muito grande e as consultas, (quando tem profissional) ficam
com longo espaço entre uma e a outra.
Sendo na própria escola, também eliminaríamos o problema de gastos com
condução, que os pais não possuem. Estes
profissionais também poderiam atender os professores, visto que sofremos um
desgaste emocional e da voz muito grande, com as turma volumosas).
Ao
meu modo de ver, vidas são muito mais importantes que qualquer outro
investimento no nosso Município, estado ou país. Bonitas são as Clínicas da família, os
“UPAS”, mas o atendimento é precário, deficiente ou nenhum.
Ontem,
dia 5 de novembro uma amiga minha levou
sua avó em dois “UPAS” aqui na área de
Campo Grande e os dois não tiveram médico para atender idosa.
O Hospital Rocha Faria também em face a isso, estava superlotado com atendimento precário. Não fica atrás o Hospital Pedro Segundo também aqui na zona oeste.
Todos
nós sabemos que a área de saúde no nosso
país é uma vergonha! Mas meu assunto
é Educação e para finalizar é necessário
fazer esse link, entre as duas áreas pois precisamos desse atendimento
multidisciplinar para melhorar a educação
no nosso país.
Um
abraço caloroso aos meus colegas professores das redes pública e privada.
Soraya Barros
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